Riscos de beleza

Ontem, impacientemente estava aguardando uma consulta de rotina com meu cardiologista. Bem na minha frente, em outra poltrona, estava uma senhora idosa com seu esposo (suponho). Meus olhos largaram aquela revista chata de consultório que não tem nada de cultura e se fixaram nos braços enrugados da senhora. Fiquei acompanhando cada risco de suas rugas e como a ação do tempo havia transformado aquele corpo. Me detive em suas mãos não menos enrugadas e um pouco trêmulas. Seu jeitinho era tão acolhedor, tipo aquela vovozinha que todo mundo sonha em ter. Fiquei observando que o casal estava bem juntinho na poltrona como numa eterna cumplicidade e companherismo. Não sabia quem era o paciente: ele ou ela. Reparei seu cabelo branco muito bem ajeitado e suas roupas discretas. Ela lia atentamente um artigo de revista. Infelizmente minha visão "de céu" se interrompeu quando o médico abriu a porta e chamou o nome dela. De forma bem lenta ela se levantou e se encaminhou para dentro do consultório com seu marido. Me ficou a imagem da dureza da velhice mas, ao mesmo tempo, a beleza de se viver. Tomara que ela não tenha tido maiores problemas com o coração.